Escrito com recurso apenas a três dedos da mão esquerda e um computador criado especificamente para este efeito, Breve História do Tempo: do Big Bang aos Buracos Negros (Gradiva, 1988) consagrou Stephen A. Hawking como sério sucessor de Einstein numa revisão revolucionária das grandes teorias do tempo, do espaço e do cosmos. A obra (revista, complementada e reeditada em 2005 com o título Brevíssima História do Tempo, editado pela Gradiva em 2007) permanece a súmula essencial do contributo do físico teórico inglês como investigador e divulgador científico e o título mais importante na sua bibliografia. Foi por isso surpreendente que, em 2002, à revelia da vontade expressa do autor, a editora Phoenix Books and Audio tenha publicado A Teoria de Tudo: A Origem e o Destino do Universo, que a Gradiva edita agora em Portugal. Na verdade, as sete lições que compõem este livro procuram explicar de forma acessível a história da cosmologia e da astronomia desde Aristóteles até à teoria da radiação dos buracos negros, desenvolvida por Hawking na década de 70. Foram primeiro proferidas na Universidade de Cambridge (onde Hawking ocupa a cátedra outrora pertencente a Newton), depois revistas pelo autor e editadas em cassete (Stephen Hawking’s Life Works: The Cambridge Lectures) e o seu conteúdo revisto e parcialmente integrado em Breve História do Tempo (alguns dos capítulos têm o mesmo título). Pelo caminho, Hawking assumiu publicamente um recuo perante a convicção originalmente expressa de que (com 50 por cento de probabilidade até ao ano 2000) seria possível atingir-se uma teoria completa que unisse «a mecânica quântica, a gravidade e todas as outras interacções da física» e explicasse a razão primordial por que o universo existe. A Teoria de Tudo, antes apontada com entusiasmo como possibilidade de «conhecermos a mente de Deus» acabou por soçobrar totalmente no último livro de Hawking, The Grand Design, assinado em parceria com o físico norte-americano Leonard Mlodinow e editado em Setembro de 2010. Nele, afirmam: «Devido à existência de uma lei como a da gravidade, o universo pode criar-se a partir do nada. A criação espontânea é a razão pela qual há algo em vez de nada, porque o universo existe, porque nós existimos. […] Não é necessário invocar Deus para premir o gatilho e pôr o universo em marcha.»
© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)
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