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Manifesto | Philip Roth


Philip Roth 1, Wikipedia 2



Morto o escritor, vence a Wikipedia.

Na página da Wikipedia em inglês relativa a A Mancha Humana, publicado por Philip Roth no ano 2000, continua a ler-se, em destaque, que o protagonista do romance, Coleman Silk, foi alegadamente inspirado numa personagem real: o escritor e crítico literário Anatole Broyard (1920-1990) que, como Coleman, se fez passar por “branco”, escondendo as suas raízes afro-americanas. Ora, o escritor norte-americano negou e tentou corrigir esta informação desde que tomou conhecimento dela, em 2012, chegando ao ponto de, numa longa e detalhada carta aberta publicada na New Yorker nesse ano, especificar a verdadeira inspiração para a personagem (“um episódio infeliz na vida do meu velho amigo Melvin Tumin, professor de Sociologia em Princeton”) e escrever: “Eu sou Philip Roth […] e não existe qualquer verdade nessa afirmação.” Perante o pedido de rectificação que lhe foi endereçado por Roth, o administrador da referida página online foi peremptório: “Compreendo o seu ponto de vista de que o escritor é a autoridade máxima sobre a sua própria obra, mas nós exigimos fontes secundárias.” Logo, Roth não era uma fonte credível. A melhor ficção, fica provado, existe na Wikipedia.

© Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)

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