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Dalton Trevisan tem 87 anos e, desde a estreia, em 1945, com Sonata ao Luar, tem pavor de aparecer em público. Alcunhado de Vampiro de Curitiba (cidade natal e cenário de todos os livros), D. Trevis, quase nunca fotografado (exemplo raro, a fotografia em cima reproduzida), rejeita a fama e cumpre inflexível autorreclusão. Talvez só assim se justifique o facto de este extraordinário escritor brasileiro (quase só contista) ser tão pouco conhecido em Portugal. Ou, nem isso, já que, em 2012, Trevisan foi distinguido com o Prémio Camões e com o Prémio de carreira Machado de Assis, atribuído pela Academia Brasileira de Letras. Em 1984, a Relógio d’Água publicara Cemitério de Elefantes e ficara-se por aí Trevisan disponível por cá. Agora, a mesma editora publica a obra completa, começando pelo seu único romance, A Polaquinha (1985), pelo livro de contos mais aclamado, O Vampiro de Curitiba (1965; com a fantástica personagem Nelsinho, obcecado por sexo e sacrifício das mulheres) e pela antologia Novelas Nada Exemplares (publicado em 1958, com produção contista dos anos 40 e 50), o livro de estreia reconhecido pelo escritor.
Aconselho que leia Trevisan com largas horas disponíveis pela frente. Porque é impossível parar. Inicie-se com A Polaquinha, um tratado sobre como escrever bem sobre sexo (até o mais explícito), com o melhor do estilo do autor: a frase sintética, objetiva e enumerativa, sempre justa e criativa; a suprema arte do diálogo; a metáfora ou os lugares-comuns tornados originais; a economia extrema do conjunto, com precisão iluminada; a psicologia entranhada no quotidiano. Aqui, o erotismo é antológico, habitado, na vibração da primeira pessoa, pela atrevida pureza de alma de Polaquinha, Miss Bundinha de Curitiba, passando dos braços de um médico, um engenheiro, um advogado e um motorista de ónibus para a cama de um bordel. Trevisan é uma surpresa só, ao mesmo tempo, delícia e melancolia, um susto de talento. Não deixe de o ler.
A Polaquinha, Dalton Trevisan, Relógio D’Água, 152 págs., 14 euros.
SOL / 01-02-2013 © Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)
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