Quanto vale a felicidade?
O exemplo é destacado pelo economista suíço Richard S. Frey. No final dos anos 80, Jigme Singye Wangchuck, quarto rei do Butão, «proclamou a ‘Felicidade Nacional Bruta’ como principal força orientadora do seu país». Perante a tão propalada crise económica mundial, tal medida seria improvável num país europeu. E, contudo, é sobretudo hoje que faz sentido escutar os teóricos da corrente Economia do Bem-Estar, a sua defesa de um Estado com funções alocativa, distributiva e estabilizadora e a convicção primeira de que a raiz dos problemas económicos pode ser analisada a partir da avaliação do bem-estar «subjectivo declarado» de cada cidadão. Felicidade: Uma Revolução na Economia, de 2008, é um ensaio marcado pela ainda difícil aplicabilidade prática do modelo da economia do bem-estar. Mas é premente lê-lo para equacionar uma outra visão económica ‘de futuro’, talvez mais esperançosa do que a que nasce dos métodos positivistas.
O estilo é simples, claro, directo ao assunto, revisto e resumido no final de cada um dos 15 capítulos das três partes do ensaio. Nada de «economês» complicado; aqui fala-se mais ‘do que deve’ ser a economia e este discurso adapta-se bem às convicções ou suspeitas do cidadão pouco conhecedor de teoria económica. O tom didáctico do perito mundial Richard S. Frey advém-lhe da experiência pedagógica (é professor de Economia na Universidade de Zurique e no Instituto Federal Suíço de Tecnologia), mas também da posição pioneira na aplicação da psicologia à economia. Não é à toa que Frey refere como ‘co-autor’ o seu núcleo académico de investigação (o Grupo de Zurique): interdisciplinar, não-convencional, de orientação empírica e preparado para a procura de «conclusões políticas».
Pondere-se em cada página a utilidade da investigação da felicidade em economia: metodologias de medição, análise de causas e efeitos, procura de relações entre a felicidade e o rendimento ou o desemprego, «efeitos da inflação e da desigualdade sobre a felicidade». São elucidativas as abordagens ao emprego por conta própria ou ao trabalho voluntário, ao casamento ou ao sobreconsumo de televisão, as comparações entre os EUA e a Europa. Frey firma a «felicidade sustentável» como desafio à economia ortodoxa e às instituições políticas. Ainda incompleto, mas incontornável.
Felicidade: Uma Revolução na Economia, Richard S. Frey, Gradiva, 357 págs.
SOL/27-04-2009 © Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)
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