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Foto do escritorFilipa Melo

Juan Rulfo | De génio



Imprescindível. Obrigatório. No caso de Juan Rulfo (1917-1986), não bastam todas as frases feitas com que os editores agora gostam de promover os livros. Para apreciadores da grande literatura, ler a curta (pouco mais de 300 páginas) e intensa obra deste autor mexicano significa um marco importante. Gabriel García Márquez, entre tantos outros, explicou-o num texto de homenagem agora incluído em Obra Reunida, antologia das narrativas essenciais já antes publicadas pela Cavalo de Ferro (os contos O Llano em Chamas, de 1953, a novela-maior Pedro Páramo, 1955, e a novela póstuma O Galo de Ouro, de 1980, várias vezes adaptada para cinema; tudo revisto segundo edições críticas recentes): «A descoberta de Juan Rulfo […] será, sem dúvida, um capítulo essencial das minhas memórias.»

Espera-se que Rulfo já não seja «um escritor que se lê muito mas do qual se fala muito pouco». Continua misterioso o silêncio pelo qual optou após a publicação de Pedro Páramo, uma decisão lendária que acentua o deslumbramento provocado pelo génio fulgurante do escritor. Disse: «a minha base é a intuição» e nenhuma análise crítica conseguiu verdadeiramente explicá-lo.

Comala é a aldeia da fazenda Meia-Lua de dom Pedro Páramo (um homem que é «uma erva daninha», «um rancor vivo») onde chega o filho, Juan Preciado, à procura dele. Até mais do que a Macondo de Cem Anos de Solidão, Comala representa um mundo à parte, também na literatura universal. Rulfo chamou-lhe «o lugar das brasas». «Tudo está coberto de desdita» na aldeia habitada por gente que existe por ter existido, ecos que se movem e falam. Aldeias destas «reconhecem-se sorvendo um pouco do seu ar velho e tímido, pobre e magro como tudo o que é velho». Simbolizam o México mítico: o das forças e sombras dos mortos e da terra, da solidão e das revoltas dos homens. Rulfo captou-o também em milhares de fotografias a preto e branco, algumas reunidas no álbum Le Mexique de Juan Rulfo (Éditions Place de la Victorie, 2002).

Jorge Luís Borges referiu «um texto fantástico», com «indefinidas ramificações» imprevisíveis pelo leitor, mas «cuja gravitação» o agarra. Carlos Fuentes apontou uma «narração elíptica» e uma estranha intimidade com a forma poética. Ler as novelas e os contos de Juan Rulfo é sempre uma descoberta magnífica.

Obra Reunida, Juan Rulfo, Cavalo de Ferro, 366 págs.

SOL/ 16-07-2010 © Filipa Melo (interdita reprodução integral sem autorização prévia)

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